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Moribundo SUBurbano. Estereotipado: bandido, maconheiro e marginal. Escritor, poeta e, portanto, miserável.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Do discurso da Ingratidão

"O homem que diz sou, não é, porque quando é mesmo, não diz." Vinicius de Moraes.


Há um tempinho, me pegava pensando nesse tema, da mesma forma como penso em muitos outros temas, que, serão por mim, analisados num futuro um pouco mais promissor. Digo isso, e quem me conhece sabe, porque nem sempre me sinto à vontade para falar de certas coisas, e principalmente, sobre os assuntos os quais não domino. Confesso: qualquer pretensão acadêmica não passará de absurdo da parte que lê esse texto.
Alguns motivos, na maioria, empíricos mesmo, fizeram com que me interessasse por esse tema. Atualmente, tentando abandonar qualquer tipo de lirismo, digo, discurso baseado na paixão, acabo por entrar numa contradição, a qual já foi reconhecida por mim, e, a qual não tenho objetivo algum em sanar, ou seja, penso que qualquer contradição, diversidade ou qualquer palavra, à seu dispor, significa maturidade e sinal de aprendizado. Bom, sou assim mesmo, caso não me policie, acabarei por transformar esse, num pacote de digressões, o que, de certa forma, não é meu objetivo aqui. Vamos lá, passar para a segunda fase desse texto, a ficcional.

Algumas vezes, acordava ele por volta das quatro e meia da manhã ou madrugada, tanto faz, pensando certas coisas que, no fundo, não agradavam seu íntimo. Bem lá no fundo, entendia muita coisa, era até compreensivo e relativista no sentido banalizado da palavra. Embora sentisse demasiada raiva de mentiras, não as suportava, não suportava os mentirosos, porém, como identificá-los, sendo ele um homem compreensivo, relativista? Entregava-se, não importava pra quem, pra quê ou até quando, ele se entregava, tinha o coração bom. Ele se entregava. Sabe como é acordar com raiva de alguém?Ele não sabia o que era isso, não queria saber o que era isso, não pretendia saber o que era isso, embora, agora, soubesse, reconhecesse a necessidade disso. Acordava triste. Pensamento logo onde ele não queria que estivesse, onde, alguém que o conhecesse, nem seus amigos imaginariam que estivesse, lá no fundo, no recôndito da alma, sangrando por odiar alguém, lá estava ele, toda manhã, pensando no rumo do seu dia, imaginando, maquinando uma solução a fim de não encontrá-la, não vê-la, não lembrar dela. Já não era uma lembrança, lembrar que odiava ela, e que precisaria traçar um dia inteiro para não encontrá-la?Odiava ainda mais ela. Ainda mais ela. Não gostava de odiá-la, mas sentia necessidade de odiá-la, sabia agora o que era odiar, recriminava os que odiavam, recriminava-se agora, agora nada era como antes, nada poderia ser como antes, permaneceria tolerante, relativista?Era ele, agora, tendo raiva de alguém, e pior, alguém que um dia ele amou, e que, talvez tenha amado ele. Recriminava ainda mais o pensamento, calava-se. Sentado, acendia o cigarro que, há tempos vinha discriminando, agora, era ele o fumante, mas, como tudo atualmente tem se tornado necessário, não seria diferente com o cigarro. Fumava, com o filtro entre os dedos, a fumaça nos pulmões já, há tanto ferrados pela asma ou pela bronquite. Nunca conseguia diferenciar uma da outra. Expelia a fumaça, sentia a necessidade cada vez mais gritante de fumar, fumava.
Rompia em seu peito, a vontade de vingar-se, a simples vontade de falar umas verdades, mas também recriminava isso, sabia, e sabia mesmo, que o pior castigo para os que mentem, é o desprezo, mas nem desprezar sabia ele, isso sim, ele não sabia. Imaginava ele que para desprezar alguém, deve-se amar-se em demasia, e, do amor-próprio já tinha ele aberto mão faz tempo. Era, para ele, sinal de fraqueza, verdade dos que não encaram a vida de frente, amar-se em demasia. Não se amava. Amava os outros em demasia. Recriminava a vontade de beijá-la. Já tinha beijado outras, bem melhores, beijaria outra, bem melhor, bem melhor, e assim seria até beijar eternamente alguma poetisa mais negra que ele. O prazer de quem tem saudade é simplesmente sentir saudade. Não gostava de ter saudade, não tinha prazer em recriminar o futuro, a fim de tentar reconstruir o passado. O presente era uma merda, acordava de manhã, ele acordava de manhã ou seria de madrugada?
Queria ligar, ia ligar tentava não ligar, não ligava, pensava em não ligar, não podia ligar ia se ferrar, ia sentir mais raiva, ela ia ser mais ingrata, não queria ser ingrato, tinha medo da ingratidão dela, isso sim causava raiva, parado, tinha raiva, raiva, raiva, acho que ele ainda gosta dela, ou seria, odeia a ingratidão dela a tal ponto de querê-la de volta só pra ser ingrato com ela também? Mas, como ser ingrato, a gente é ingrato quando alguém te oferece algo, para o seu bem, seu crescimento, e, você, depois de sugar o que acha necessário, despreza seu doador, como ser ingrato com ela? Teria ela algo que fosse do apreço dele?Não, ele não ligava, sabia disso, sabia que não, mas tinha raiva, raiva dela, raiva da ingratidão dela. Abandonar o outro, até vai, tranqüilo, acontece, as pessoas se libertam das outras, se libertam de si mesmas, mas, já livre o pássaro, tem ele que voltar, pra magoar mais ainda? Não, não... Não sei não, talvez ele saiba, me deixa perguntar pra ele, um dia...
Na verdade, nem sei direito o que é ingratidão, talvez ninguém saiba, ou alguém saiba e não diz, não sei, não sei não. Era assim, ter raiva de uma pessoa ingrata. Sabe, não acho que ele goste dela mais não, acho não... Acho que ela sugou foi pouco dele, ele quer que ela sugue mais, ele não a ensinaria a ser ingrata, ele não é ingrato, ele queria é que ela deixasse de ser ingrata. Ingrata ela era, sempre fora? Além de ingrata foi burra, não aprendeu quase nada e já sai assim, se dizendo mulher, que mulher o quê? Pra ser mulher tem que saber transar, no mínimo saber transar! Cê acha que sabe transar?- “ah, assim não,olha, quero em pé, pode ser em pé?ai, eu gosto em pé!” Em pé é bom, é bom em pé, foda-se quer nem saber se estou cansado, não é? Vamos em pé, vamos... Ia em pé, pra te agradar ia em pé, cansado, mas ia em pé, queria é te dar prazer, mulher? Se diz mulher agora?É mulher, beleza, é mulher, é mulher. O quê? Ela te ligou pra dizer que estava com outro, que? Outro, homem? Que, de mais idade, de carro, de lá, como ela? Olha rapaz, sai fora dessa, é ingratidão demais. É, assim, ligar pra dizer isso é ingratidão demais, é sim, acabar comigo demais, é sim. Bom, não acho que seja alguma merda, ser mais velho Ter carro até vai, porra, mais conforto, não é? Tu que não gostava dessas coisas, não é? Humildona, você! Legal, você. Mais velho é merda,é merda. É da faculdade?olha, que merda, grandes merda, quantas vezes disse isso, eu, que era merda, era merda, apenas porque você não estava na faculdade, olha o quanto eu te agradava, olha! Ai, sei não, mais velho? Quero ver te foder em pé, quero ver te foder e gozar pra você ver, quero ver, quero ver te comer e ficar, te comer e não contar, quero ver,quero ver nao falar das tuas estrias, quero vê-la nem pintada depois dessa, nem pintada. Consigo nem passar ai, na tua rua, nem ai consigo passar. Medo do Pálio branco?Não sei, disso, não sei... vai ler, vai me culpar, vai falar que fiz isso, fiz aquilo, sei não, de pouca coisa sei, mas, esse, é o discurso da ingratidão, abençoada!

3 comentários:

Beth Balanço disse...

Nossa, eu admiro quem escreve! Belo texto.

:*

Marry disse...

Nossa mocinha ficou louco?
Nossa nunca quero ser e jamais quero ser inpiração sua!!!
Muito louco!!!
Mas bonito!!!
Muito louco, mas Real.
Sabe nem tenho palavras certas para definir.
Beijos.

Marry disse...

Retificando a palavra:
mocinho e não macinha.